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A principal diferença entre um banco e um multi family office (MFO), é a forma como se aborda o cliente: enquanto num banco há uma visão massificada dos seus clientes, num MFO o cliente é visto como único.

O serviço mais importante de um MFO, normalmente, é gerir as poupanças de clientes, pelo que apresentam acordos de custos mais favoráveis com vários custodiantes/bancos, a nível global, dando total escolha ao cliente do custodiante a utilizar (para o MFO, esta escolha é totalmente irrelevante). nos bancos as carteiras de gestão têm até 5 perfis de risco, desde o conservador ao agressivo, os MFO tentam desmistificar esse paradigma, olhando para cada cliente como único e considerando o seu perfil como exclusivo sem deixar de considerar a tolerância de risco, os objetivos e “suitability” das operações.

Um MFO também não tem produtos próprios, tendo assim a capacidade de personalizar os seus serviços e contribuir eficazmente para a gestão de cada cliente de forma individual.

A maior parte dos clientes detêm várias contas, dispersas por várias instituições financeiras, não tendo normalmente uma noção clara do montante total investido, nem do peso de cada investimento sobre o total do capital disperso. Um do serviços prestados pelo MFO é, também, o de consolidar todas essas contas e apresentá-las num único extrato. Assim, o cliente passa a ter disponível uma ferramenta de controlo do seu investimento diversificado e de apoio na tomada de decisões de investimento futuros.

Nos EUA, um MFO tem normalmente dois tipos de gestão de carteira:

(i) a gestão discricionária, a qual, seguindo um exaustivo conhecimento dos objetivos do cliente, bem como dos activos já detidos por este noutras instituições, gere a conta do cliente sem a sua intervenção, enviando-lhe relatórios permanentes e realizando reuniões presenciais;

(ii) gestão semi discricionária, semelhante à anterior, com a ressalva de que o cliente tem que aprovar todas as compras e vendas na sua conta. Um MFO tem, ainda o serviço de advisory, através do qual recomenda compras/vendas de ativos, sem cobrar comissão de gestão.

Num MFO, a equipe de gestão das carteiras vem, tendencialmente, de bancos, com a enorme vantagem de poder praticar uma gestão totalmente independente, seguindo o que é melhor para o cliente e não para a empresa que gere a conta. Garante-se que os objetivos do MFO se encontram alinhados com os do cliente, em qualquer que seja a situação. De facto, a equipa de gestão de um MFO tem uma escolha de ativos muito mais vasta e isenta do que uma equipa de gestão de um banco, que tem uma escolha de ativos limitada aos interesses do próprio banco.

Um MFO cobra um fee que cobre vários serviços, sendo o seu principal objetivo a gestão das contas dos seus clientes.

Para as contas de gestão (gestão discricionária/semi-discricionaria), nos EUA, os reguladores Americanos (SEC) obrigam a que a única comissão que os clientes paguem sobre essas contas seja apenas a comissão anual de gestão, não podendo haver mais nenhum tipo de comissão “extra” sobre esse cliente, incluindo:

  • Mark ups nas compras de ativos. Por exemplo, quando se compra uma obrigação da EDP a 100, esse será o preço final para o cliente. Normalmente, os bancos e corretoras tendem a cobrar um mark up mesmo em contas de gestão discricionária: assim, em vez de 100, o cliente pagaria 100.50, mais um custo escondido o qual, normalmente, o cliente desconhece.
  • Normalmente, os fundos de investimento pagam um retrocessão anual para a instituição financeira que vende o fundo a clientes. Nos EUA, em contas de Gestão, o cliente tem que, por lei, ser informado se isso acontecer. Mais um custo escondido e um enorme conflito de interesses.

Em qualquer Multi family office, todos os custos são totalmente transparentes (ou seja, todos os custos que o cliente paga aparecem nos movimentos da sua conta).

Um MFO oferece aos clientes um modelo mais fiel e mais justo: o banco é apenas visto como um provedor de serviços, neste caso um custodiante, desaparecendo os conflitos de interesse com o cliente. Adicionalmente, o MFO tem muito mais serviços exclusivos a oferecer ao cliente.

Private Banking não é sinónimo de gestão de ativos: a consolidação de contas e o papel dos Multi Family Office

Hoje, mais do que nunca, seja pela complexidade dos mercados e pela sua crescente imprevisibilidade, seja pela carga regulatória associada aos investimentos financeiros, seja ainda pelas interdependências e efeitos em múltiplas esferas (fiscal, empresarial, sucessória e até social e ambiental) das opções de investimento, os clientes esperam cada vez mais do seu gestor, tanto ao nível do retorno dos seus investimentos, como também – e sobretudo – da multiplicidade dos serviços oferecidos.

Para além da importância crucial da gestão de ativos, um dos vários serviços tipicamente prestados por um Multi Family Office como aquele que represento a partir dos Estados Unidos é a disponibilização aos seus clientes (e também a alguns potenciais clientes), da consolidação de contas.

Trata-se de um serviço e de uma ferramenta fundamental para que o investidor possa ter uma visão global e fidedigna do seu património. Existem softwares bastante avançados para este efeito, muito completos, com atualizações permanentes e que oferecem a possibilidade de explorar múltiplas variáveis de análise individualizada e de conjunto do património global do cliente.

Com efeito, são várias e importantes as vantagens da consolidação de contas bancárias:

(i) um único relatório/extrato com todas as contas consolidadas,
independentemente da geografia ou do número total de
bancos/custodiantes;

(ii) a possibilidade de uma visão holística do património, com acesso imediato à informação financeira geral ou individual na moeda desejada;

(iii) o acesso a todas as estatísticas e rácios, relativamente a cada ativo, classes de ativos e património global;

(iv) um maior controle sobre os ativos detidos em cada um dos bancos e uma noção real da diversificação de todos os ativos no património global;

(v) uma visão detalhada e transparente dos custos totais, bem como de cada um dos bancos ou custodiantes;

(vi) a possibilidade de consolidação de ativos líquidos e não líquidos (como, por exemplo, imobiliário, arte e outros);

(vii) mais e melhor informação para sustentar as decisões de investimentos futuros; etc.

Em suma, o acesso a este serviço proporciona uma ferramenta extremamente útil no processo de análise e de tomada de decisão, não só de investimentos futuros, mas também da performance dos mesmos e do estado do património global.

É, pois, um elemento altamente distintivo da proposta de valor de um Multi Family Office e que, invariavelmente, traz benefícios e satisfação aos clientes.

De salientar que nos EUA o processo de consolidação da informação transmitida pelos bancos/custodiantes se encontra já totalmente automatizado, pelo que o processo se torna mais simples e completamente transparente. Em outras regiões, como é o caso da Europa, os bancos e custodiantes ainda não se adaptaram a esta necessidade (que deveria ser uma exigência) dos seus clientes, embora seja possível através de ferramentas adequadas, ainda que de forma não automatizada, realizara consolidação de todas as contas, em vários bancos, de qualquer região num só relatório de consulta diária e em tempo real.

Numa era em que a tecnologia é omnipresente e domina a sociedade mundial em todos os aspectos da vida quotidiana de cada indivíduo, o papel dos Multi Family Offices e de outros prestadores de serviços financeiros independentes ganha maior relevo, na medida em que tendem a investir e a ser criativos na concepção de serviços inovadores para oferecerem aos seus clientes e assim complementarem a oferta convencional disponível. A missão destas entidades vai, pois, muito para além da gestão de ativos e a diversidade, criatividade e transparência nos serviços que oferecem são fatores de diferenciação face aos players tradicionais e de inegável
criação de valor para o investidor.

É a aplicação prática da máxima, tantas vezes proclamada, mas nem sempre executada, “clients first”!

Fonte: Funds People

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