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Diversificação internacional é muito mais que uma alternativa ao atual patamar das taxas de juros brasileira.

Na semana passada o Banco Central promoveu mais um corte na taxa Selic. Uma redução de 0,75 ponto percentual, empurrando a taxa para o piso histórico de 2,25% ao ano.

Por conta de mais esta redução, surgiu um debate em uma de minhas turmas de pós-graduação sobre alternativas de investimento no Brasil diante de uma taxa de juros “tão baixa”.

Passei boa parte da minha vida de estudante e profissional debatendo sobre as elevadas taxas de juros brasileiras, seus efeitos nocivos para o crescimento da economia e sonhando com o dia em que as taxas seriam baixas e teríamos um boom de investimentos produtivos.

Este momento chegou, mas, como já disse, por conta mais de nossos fracassos do que de nossas virtudes.

Voltando ao debate em classe, a questão que rodava entre os alunos era se não seria hora de investir no exterior. Considerando o patamar diminuto em que se encontram a taxas de juros, as alternativas no mercado brasileiro estariam pouco atrativas diante do mercado americano.

Como de costume, tento provocar a reflexão e que as respostas e até dúvidas sejam resultado da discussão.

O primeiro aspecto a despertar minha atenção foi a motivação. Nenhum dos alunos discutiu o investimento no exterior como estratégia de diversificação e sim, como uma forma de buscar maiores retornos frente a taxa de juros brasileira atual.

A memória da taxa de juros de dois dígitos ainda é muito forte e subsiste na cabeça dos investidores o valor místico de 1% ao mês de rendimento.

O Brasil é tradicionalmente uma economia fechada. Estudo do Banco Mundial, com informações consolidadas de 2018, aponta que entre 188 países estamos apenas à frente de dois outros, Nigéria e Sudão, em relação ao critério abertura econômica com o exterior. Este indicador expressa a soma de exportações e importações de bens e serviços dividido pelo PIB. Enquanto a média mundial situa-se em 45%, no Brasil esse indicador alcança, apenas, 22%.

O patamar elevado de taxas de juros com que o Brasil conviveu durante décadas com certeza inibiu a busca por ativos no exterior, mas isto parece não explicar todo o filme. Mesmo gestores profissionais custam a buscar oportunidades no exterior.

A Instrução 555 da CVM, de 2014, permite investimentos de até 20% no exterior para fundos voltados ao público em geral e dobra este percentual para aqueles voltados aos investidores qualificados. Sem contar a ampla liberdade de que gozam os investidores profissionais.

Já se vão seis anos e até hoje a parcela em investimentos no exterior é pequena. O gráfico abaixo indica que apenas no final de 2019 os fundos de investimento atingiram 3% da carteira em ativos internacionais.

O impulso adicional vindo da queda de juros parece ter alimentado o apetite dos gestores, e em 3 meses foi atingido o topo de 3,94%. Um aumento de 1/3 num curto espaço de tempo.

O investimento no exterior é uma boa alternativa de diversificação e, em um país fechado como o Brasil pode, inclusive, ter vantagens adicionais pela menor interação com alguns setores e países da economia mundial.

Investir no exterior significa ter acesso a um número de empresas muito maior que na bolsa brasileira, poder adquirir ações de setores não tão desenvolvidos no Brasil, como o de tecnologia, e participar de outros ciclos econômicos.

Por mais correlacionados que sejam os mercados mundiais, cada país possui suas especificidades e momentos econômicos particulares.

O segredo da diversificação está em identificar ativos pouco correlacionados. Ou seja, em uma carteira de ativos bem diversificada, enquanto alguns ativos sobem, outros descem e outros tantos ficam parados. A reduzida correlação compensa, ou atenua, os movimentos de altas e quedas e serve para controlar o risco da carteira e melhorar a relação entre risco e retorno.

A despeito das vantagens de se investir no exterior, é necessário se entender estes mercados, o que exige mais atenção, dedicação e cuidado. Se existem riscos específicos é necessário compreendê-los.

Você pode abrir uma conta no exterior e enviar o dinheiro para fora e iniciar suas transações ou investir aqui no Brasil mesmo.

Caso invista a partir do Brasil, algumas alternativas são a aquisição de Brazilian Depositary Receipts (BDRs), que são recibos representativos de empresas listadas no exterior, os exchange traded funds (ETF) referenciados em índices de Bolsas estrangeiras ou fundos de investimento que tenham por objetivo alocar parte de seus recursos nos mercados internacionais.

Considerando a complexidade envolvida, para clientes em geral ou investidores qualificados que não tenham experiência com o mercado financeiro, as alternativas mais indicadas talvez sejam os ETF e fundos de investimento.

Os ETFs disponíveis na B3 que investem no exterior compram o índice S&P, ou seja, acompanham as cotações da Bolsa americana e já são, por definição, diversificados.

No caso dos fundos de investimento, o investidor pode contar tanto com a diversificação como com a diluição de custos, típicas de investimento coletivo, quanto com a gestão profissional. Apesar destas vantagens, sempre será necessário investir tempo para identificar boas empresas de gestão e entender muito bem objetivo e política de investimentos dos fundos em análise.

Investir no exterior é uma boa estratégia de diversificação, pense nela como uma política de longo prazo e não apenas como um recurso para fugir do atual patamar das taxas de juros.

Fonte: Valor Investe

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