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Economista reforçou a necessidade de o governo fortalecer os programas de socorro financeiro emergencial à população

Embora a pandemia da covid-19 tenha aprofundado os problemas de acesso à saúde e crises como o desemprego, as desigualdades nacionais foram apenas aprofundadas e ficaram mais evidentes. A avaliação é do economista Arminio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos e fundador do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), que participou hoje da Live do Valor “Os rumos da saúde e o mundo pós-pandemia”.

Ao mencionar, por exemplo, complexidades que envolvem transportes de massa no contexto do combate ao coronavírus, Arminio reforçou a necessidade de o governo fortalecer os programas de socorro financeiro emergencial à população.

“Há necessidade de desenhar bem os programas de apoio, para que as pessoas possam, dentro do possível, se expor menos. Não é fácil, esse é um quadro que também espelha algo maior e antigo entre nós. E isso está ficando mais visível agora”.”Havia ilusão de que o Brasil é um país onde não existe racismo. Havia essa falsa impressão de que há aqui no Brasil mobilidade social. Não estou falando da mobilidade física, dos transportes, mas de as pessoas terem uma chance na vida. E nada disso é verdade”, pontuou.

Ao olhar adiante, Paulo Chapchap, ex-diretor-geral do hospital Sírio-Libanês e membro do Todos pela Saúde, que participou do debate, disse esperar que a CPI da Covid provoque mudanças esperadas por alguns segmentos da sociedade. “Minha esperança na CPI como cidadão é que ela mude posturas”, afirmou o médico, para quem a pressão política pode corrigir erros que continuam a ocorrer.

Na opinião do especialista, a comissão parlamentar de investigação é instrumento capaz de evitar ainda um grande número de mortes por covid, uma vez que leva à conscientização geral e pode forçar o governo federal a mudar direcionamentos. Ele criticou as sucessivas trocas de comando na pasta da saúde, o que na sua visão afetou diagnósticos, elaboração de políticas e velocidade na tomada de decisões.

“Nós todos sabemos que quando você é chamado para uma nova atuação profissional, você tem um tempo de entendimento para depois ter um tempo de atuação”, ponderou. “Nós trocamos quatro ministros diante de uma crise de enorme complexidade, de enorme volatilidade. De mudanças muito rápidas, num país grande, num país heterogêneo”, complementou.

Apesar de reconhecer que o momento é crítico para se pensar em ações para além das emergenciais, Arminio Fraga disse nutrir esperança em transformações mais profundas. Segundo ele, propostas mais inclusivas devem ser incorporadas de maneira explícita ao projeto de país que o Brasil deseja ser.

“Ainda tenho esperança, mas no momento está difícil”, ressalvou. Arminio ponderou, contudo, que se mantém esperançoso e acompanha a mobilização da sociedade civil, do setor empresarial e do terceiro setor na resposta à pandemia.

“Eu vejo algumas coisas boas, e talvez a principal delas é o engajamento dos jovens em alguns debates, na política. Isso é uma das coisas que me dá mais esperança de que vamos repensar a nossa vida enquanto nação e vamos engrenar num caminho melhor.”

Segundo observou Arminio, o Brasil estacionou num nível de desenvolvimento inferior ao próprio potencial. Apesar desse descompasso em relação ao mundo, o economista reconhece que houve avanço extraordinário pelo lado da ciência em pouco mais de um ano, que foi prejudicado por falha humana.

“São erros que continuam a se repetir”, comentou o economista, ao abranger políticas em geral. Na visão de Arminio, a divulgação mais ampla de cronogramas para oferta de vacinas em 2022 também poderia ajudar a acalmar a população.

Para ele, esse planejamento precisa contemplar dois aspectos, ambos levando em conta os riscos inerentes à pandemia causada por um vírus novo que segue mutação: margem de segurança em quantidade de vacinas e diversificação tecnológica.

O Valor promove a partir de hoje uma série de lives comemorativas de aniversário. Ao longo da semana em que completa 21 anos, realizará debates sobre cinco temas prioritários para o país: saúde; educação; diversidade e inclusão; meio ambiente e mobilidade; inovação e empreendedorismo.

No encontro desta manhã, a Live do Valor debateu “Os rumos da saúde e o mundo pós-pandemia” com a presença ainda de Lygia Da Veiga Pereira, cientista e geneticista do Instituto de Biociências da USP e líder do projeto “DNA do Brasil”.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe

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