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O Banco Central afirmou esta semana que pretende que o real digital seja emitido apenas pela própria autoridade monetária

A Moody’s afirmou que a criação de uma moeda digital pelo Banco Central seria negativa para os bancos brasileiros. Segundo a agência de rating, a nova moeda poderia ser usada pelos clientes como uma espécie de depósito, afetando uma das principais fontes de funding dos bancos.

“A moeda digital do BC afetaria o setor bancário diretamente de várias maneiras. Depositantes de varejo podem considerar que esse ativo oferece um instrumento semelhante a um depósito, sem risco, com a proteção direta do banco central, e migrar parte de seus depósitos para essa moeda. Embora não seja criada para competir diretamente com os depósitos bancários, haveria inevitavelmente um aumento na competição por depósitos – principal fonte de financiamento dos bancos – e custos de financiamento mais elevados”, diz a Moody’s.

O BC afirmou esta semana que pretende que o real digital seja emitido apenas pela própria autoridade monetária, tenha custódia das instituições financeiras e nenhum tipo de remuneração. A autoridade monetária divulgou algumas das diretrizes que balizarão a implantação da moeda virtual, mas ponderou essa é uma avaliação “preliminar” e que o tema será debatido, nos próximos meses, em uma série de seminários com agentes do mercado.

Segundo a agência de rating, o principal desafio para o BC seria minimizar qualquer possível problema de financiamento que poderia ocorrer, para garantir que o fornecimento de crédito não seja colocado em risco enquanto o Brasil se recupera do declínio econômico relacionado à pandemia de coronavírus. O BC disse explicitamente que a moeda digital não renderá juros.

A Moody’s aponta que nos últimos anos os bancos brasileiros têm reagido às baixas taxas de juros e à criação de novas opções aos depósitos pelas plataformas de arquitetura aberta, ao oferecer taxas mais altas nos CDIs. Essa forma de depósito a prazo cresceu em média 21% ao ano entre 2016-2020 e agora representa 39% do funding total dos bancos. Enquanto isso, o custo dos depósitos como percentual do CDI aumentou para cerca de 100%, de 60% em 2016.

“Acreditamos que os bancos continuarão a pagar um maior porcentual do CDI do que a média histórica, e a chegada da moeda digital do BC reforçaria essa tendência”, diz o relatório.

Segundo a Moody’s, as moedas digitais provavelmente serão mantidas em carteiras digitais oferecidas pelos bancos e fintechs, além de possivelmente um app controlado pelo BC. A moeda digital estaria disponível para transferências entre pessoas e para pagamentos a comerciantes, desintermediando e criando concorrência para os formatos de pagamento existentes.

Para emissores de cartão de crédito, adquirentes e instituições de pagamento, que atualmente ganham receitas de tarifas de processamento de pagamentos no Brasil, a moeda digital exacerbaria a pressão negativa já existente, especialmente após a implementação do sistema de pagamentos instantâneos Pix. A Moody’ aponta que ainda não está claro se a construção tecnológica da moeda digital será compatível com o Pix ou se seria um sistema de pagamento alternativo aos existentes, o que potencialmente criaria maior disrupção e desintermediação.

Ao mesmo tempo, a criação da moeda digital pode trazer alguns aspectos positivos. Um declínio no uso de dinheiro físico pelos brasileiros reduziria os custos geralmente elevados de segurança bancária e transporte de numerário, auxiliando na eficiência dos bancos e reduzindo o risco operacional, diz a Moody’s.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe

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