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04/12/2020 Um estudo publicado em 2011 pelos pesquisadores ingleses Mark Creevy, Emma Soane, Nigel Nicholson e Paul Willman procurou entender como os investidores compreendem o impacto das emoções em suas decisões financeiras.

Intuição e emoção na tomada de decisões financeiras

04/12/2020

Um estudo publicado em 2011 pelos pesquisadores ingleses Mark Creevy, Emma Soane, Nigel Nicholson e Paul Willman procurou entender como os investidores compreendem o impacto das emoções em suas decisões financeiras.

Os pesquisadores compartilham do pressuposto de que as decisões financeiras são atravessadas por emoções, tal como é amplamente aceito pelas Ciências Comportamentais. Nesse sentido, afastam-se de uma vertente mais cognitivista[1] da Psicologia Econômica ao argumentarem que as emoções não são ruídos que atrapalham o processo decisório, que teria sua forma ótima quando puramente racional. Ao contrário, os autores defendem que as emoções são um componente primário do processo decisório. Ou seja, não há um processo decisório perfeito e estritamente racional, desviado de seu curso ideal pelas emoções. A proposta dos autores é que as emoções são parte da tomada de decisão tanto quanto os processos cognitivos.

Para eles, a função das emoções na tomada de decisão seria a de heurística, atalhos mentais, que dão acesso a um repertório de experiências, memórias, e ativam processos mentais. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa foi compreender, do ponto de vista dos investidores, quais eram os efeitos de curto e longo prazo das emoções em suas decisões, o papel da intuição nas negociações, e o impacto das emoções em suas performances. Para isso, fizeram entrevistas qualitativas com 118 investidores clientes de quatro bancos de Londres. A idade média deles era de 32 anos, e a maioria da amostra era formada por homens, com apenas duas mulheres no grupo. Os participantes também foram classificados de acordo com o tempo que investiam, e sua renda anual, que era perguntada diretamente aos investidores:

Os 118 participantes foram divididos em três grupos: Inexperientes e com renda baixa (n=18), experientes e com renda baixa (n=15), e investidores com renda alta, independente do tempo de experiência (n=38). O restante dos participantes tinham tanto a renda quanto tempo de experiência médios.

Um aspecto importante de ser ressaltado aqui é que, como se trata de um estudo qualitativo, não é possível estabelecer causalidade entre as variáveis estudadas. Ou seja, quando os autores fazem afirmações como: “investidores de renda mais alta dizem adotar determinada estratégia”, não se deve interpretar que essa estratégia é a causa da remuneração alta. O objetivo da metodologia qualitativa neste caso não é entender o que provoca os fenômenos, e sim de compreender padrões e particularidades de cada grupo, com o objetivo de conhecê-los melhor e responder às perguntas iniciais do estudo.

Os investidores abordaram que as emoções são frequentemente despertadas por ganhos ou perdas financeiras, e que podem levar semanas ou até meses para se recuperar desses eventos, seja de ganhos ou de perdas. Investidores experientes relatam ter mais ferramentas para sentir as emoções de maneira menos intensa e não deixar que elas persistam por um tempo muito longo. Sobretudo os investidores de renda alta dizem que suas estratégias de regulação emocional são redirecionar a atenção e reinterpretar cognitivamente suas experiências de ganhos e perdas.

Por outro lado, investidores inexperientes negam que sua performance sofra um impacto significativo de emoções, ainda que deixem entrever que essa afirmação não é totalmente acurada no decorrer da entrevista. Um exemplo dado pelos pesquisadores foi um investidor que afirmou que suas decisões não são afetadas pelas emoções, mas que, posteriormente, disse que:

Os inexperientes, comumente, não falam diretamente sobre como manejam suas emoções, ou então relatam que preferem evitar sentimentos intensos, seja modificando a situação ou evitando-a completamente. Por outro lado, investidores mais experientes reportam que não evitam emoções, e sim desenvolvem persistência e tolerância face a sentimentos negativos.

Os investidores falaram sobre o papel dos gerentes e/ou assessores para a regulação emocional, com vários dos entrevistados relatando histórias na qual seus gerentes desempenharam esse papel. Eles reportam que momentos nos quais profissionais interviram em seu estado emocional foram importantes para seu desenvolvimento e aprendizado.

Outro tema discutido foi o papel da intuição. Aqui, intuição é compreendida como pistas emocionais, um julgamento atravessado pela emoção, que emerge através de associações rápidas e não conscientes. Os investidores falam de intuição em trechos das entrevistas que fazem afirmações como “eu senti que isso era errado”, ou “tive um faro para isso”. Assim, os sentimentos funcionam como um radar, que direciona a atenção e a avaliação frente a oportunidades. Além disso, houve entrevistados que disseram valer-se da intuição quando precisaram tomar decisões rápidas e sob pressão. Investidores experientes falam mais sobre uso da intuição que os inexperientes, mas dentre os primeiros, há diferenças entre os que tem remuneração alta e baixa. Os experientes com remuneração baixa referem-se à intuição como um processo misterioso, enquanto os com ganhos mais altos dizem tentar entender a origem desse sentimento e conectá-lo a informações objetivas.

Uma contribuição do estudo é de que perfis de investidores distintos tem formas diferentes de manejar as emoções. Sobretudo a experiência parece ser um diferenciador nas estratégias de regulação emocional. O que nos abre caminho para pensar que, assim como conhecimentos técnicos sobre investimentos podem ser aprendidos, também se pode aprender a lidar com emoções para aprimorar a tomada de decisão.

Outro insight importante é que as emoções não são elementos indesejados que devem ser eliminados do processo de decisão, e sim componentes primários deste. Assim, podemos entender que manejar as emoções não significa evitá-las, e sim buscar a melhor forma de compreendê-las e incorporá-las às decisões financeiras.

[1] Vertente da Psicologia que procura entender os processos mentais, comumente a partir de modelos cognitivos.

Fonte: Penso, Logo Invisto !

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